A cachaça que conta nossa história

No Dia da Cachaça, visitamos o Engenho Dom Tápparo e encontramos tradição, números grandiosos e um destilado que traduz o Brasil
A cachaça é o retrato líquido da nossa história. Nascida da cana-de-açúcar ainda no Brasil Colônia, foi perseguida, proibida e resistiu — para depois ser celebrada como símbolo da roça, da mesa simples, dos encontros de família e, hoje, dos copos mais refinados. Ela atravessou séculos, acompanhou o povo brasileiro em rituais de trabalho e descanso, e chega ao presente como expressão legítima da nossa cultura. Foi com essa memória na boca que, em 13 de setembro, Dia Nacional da Cachaça, visitei o Engenho Dom Tápparo, no interior de São Paulo, para conhecer de perto como nasce um dos destilados mais premiados do país.
Ali, a produção segue com o cuidado de quem respeita o tempo da cana e a paciência da madeira. E é justamente a madeira que dá gosto à cachaça: jequitibá, carvalho europeu e americano, amburana e amendoim imprimem personalidade distinta ao líquido, transformando a aguardente popular em bebida de identidade sofisticada. Entre os tesouros guardados pelo engenho está o primeiro tonel da casa, com mais de 50 anos de história — memória líquida preservada em silêncio.

Os números ajudam a dimensionar essa grandeza: quase 6 mil tonéis e dornas espalhados pelo espaço, dez deles concentrados em um único galpão, com capacidade de 25 mil litros cada. A produção alcança até 3 mil garrafas por dia, somando cerca de 60 mil por mês. E não é só quantidade: na sala dedicada às conquistas, cada selo colado é a prova de um reconhecimento internacional, com rótulos que já ultrapassam 18 premiações.
Para o visitante, o engenho também é experiência. A estrutura recebe quem deseja conhecer de perto parte da produção e, ao final, explorar a loja física, onde é possível adquirir todos os produtos diretamente na fonte — de barris que vão de 5 a 50 litros até as garrafas individuais mais premiadas. Os valores variam conforme o rótulo: há opções a partir de cerca de R$90, como a Jequitibá 6 anos, passando por garrafas entre R$100 e R$150, como as versões em carvalho europeu ou americano, até chegar às edições especiais, caso da Cabaré Extra Premium 15 anos, que pode ultrapassar os R$300 fora de promoção. Além das cachaças, a loja reúne licores variados, vendidos em torno de R$50, e criações curiosas como o Morango Lovers, que gira na faixa de R$100. É uma vitrine completa da produção da família Tápparo, disponível para quem visita o engenho.

Medalhas e premiações mais importantes
Desde 2022, o Engenho Dom Tápparo tem conquistado visibilidade internacional através de conquistas expressivas no The Global Spirits Masters, um dos concursos mais exigentes do setor de destilados. Em 2022, as três cachaças mais premiadas da casa — Duas Madeiras Extra Premium, Carvalho Americano 10 Anos e Cabaré Extra Premium 15 Anos — garantiram para o engenho todos os títulos Master da categoria cachaça.
A Cabaré Extra Premium 15 Anos se destaca ainda mais por sua longa trajetória de reconhecimento: medalhas de ouro em concursos como o Concurso de Vinhos e Destilados do Brasil (2019), Concours Mondial de Bruxelles (edições Brasil e mundial), Catad’Or World Spirits Awards (Chile) e categorias Master no Global Spirits Masters entre 2022 e 2025.
Em 2023, o Dom Tápparo brilhou novamente no Global Spirits Masters, conquistando cinco medalhas de ouro com Duas Madeiras Ademilson Tápparo Blend, Carvalho Americano 10 Anos, Cabaré Extra Premium 15 Anos, Carvalho Europeu 12 Anos e Jequitibá 6 Anos, além de prata para a versão Amburana. Esse desempenho elevou o engenho ao posto de única marca com medalhas Master em 2022 que repetiu conquistas no ano seguinte.

Essas vitórias demonstram não apenas a qualidade técnica, mas a consistência do trabalho em selecionar madeiras que conferem caráter — como carvalho europeu e americano, amburana, jequitibá e amendoim — à produção artesanal iniciada em 1978 e guiada com empenho e visão pelas gerações da família Tápparo.
Celebrar o Dia da Cachaça em um lugar como o Dom Tápparo é lembrar que o destilado não é apenas uma bebida: é herança, identidade e orgulho brasileiro. Um brinde à tradição que resiste e se reinventa. Tintim.